26.8.11

Deus, pare de sair dando carros por aí...

Em nossas cidades já não cabem mais carros, e a cultura de que cada membro da família deve ter um está cada vez mais forte. Não bastasse a facilidade que é comprar um hoje em dia, Deus ainda anda por aí distribuindo a máquina pra um monte de gente.

Tem um comercial de carros em que uma senhora diz: "eu adoro a ford, lá em casa todo mundo tem ford". Daqui a pouco a solução pra diminuir o número de carros vai ser o controle de natalidade...


Quantos amigos você tem na sua rua? Uma pesquisa em San Francisco diz que  se você mora numa via de trânsito leve você tem 3 amigos e 6,3 conhecidos na vizinhança, mas se você mora numa rua de trânsito moderado são 1,3 amigos e 4,1 conhecidos. Agora, se você mora no meio do trânsito pesado, 0,9 amigo e 3,1 conhecidos. E esse dado foi lido num livro de 1997 (Cidades para um pequeno planeta, Richard Rogers).

Dificilmente algum chefe de família hoje gostaria de ter um carro mas não pode. Os financiamentos permitem que praticamente qualquer um com uma renda fixa (ou nem isso) possa ter um carro, queira Deus ou não. Como convencer, então, uma parcela da população a não usar o carro diariamente? Claro que isso só acontece lentamente, mas subir viadutos e duplicar avenidas vão no sentido contrário, porque são um estímulo e um convite ao uso do carro.

Quem sabe num dia em que a cidade volte a ser vivenciada no âmbito público, com espaços seguros e saudáveis de convivência e senso de comunidade, algumas pessoas parem de pedir um carro a Deus e voltem a pedir paz no mundo, saúde aos filhos, essas coisas mais tradicionais... Coitado de Deus, deve ter estourado todos os limites do cartão de crédito celestial.

21.8.11

Espaços Públicos

Esse foi o primeiro post desse blog e foi escrito em 2007, resolvi republicá-lo pra dar início a uma série de fotos que vou postar aqui nesses próximos dias...

"Se você planeja cidades para carros e tráfego, você obtém carros e tráfego. Se você planeja para pessoas e lugares, você obtém pessoas e lugares."
extraído de www.pps.org.

Parece óbvio? Pois essa ficha ainda não caiu pra muita gente. Um post pequenininho só pra engatar a primeira nesse blog e pra fazer pensar um pouco. Finalizo com uma frase que ouvi esses dias após uma conversa sobre transporte público e que chamou muito a minha atenção:

- Mas Jesus vai me dar um carro.

Essa fica pra reflexão!

19.8.11

Maconheiro financia o tráfico?

Aranha: matou geral e acabou morrendo, destino da maioria
dos traficantes.

O tráfico de drogas é um dos maiores problemas sociais do Brasil. Todo mundo reclama e se choca com a violência - não é pra menos -, mas a maioria não procura compreender mais a fundo a situação antes de tecer opiniões superficiais.

É um esquema complicado, cheio de desdobramentos e tristes consequências na sociedade, mas existem dois fatores bem simples que justificam a existência dessa situação, e o ponto a que chegou: 1 - é um mercado lucrativo; 2 - é ilegal.

As drogas sempre existiram no planeta terra e sempre existirão. Não faz sentido a ideia de "erradicação das drogas". Pra começar, algumas drogas estão disponíveis na natureza, é só colher e fumar, fazer chá, comer, seja como for. E mesmo as sintetizadas em laboratório continuarão existindo, a relação do homem com as substâncias que alteram seu estado mental é milenar e possui vertentes tanto sociais (neste caso a principal é o álcool) quanto espirituais ou religiosas. Logo, a guerra contra as drogas nunca terá fim enquanto não existir uma política das drogas, ao invés de uma guerra.

E de quem é a culpa? Dizer que o usuário financia, como diria capitão Nascimento, é uma verdade superficial. Muita madame por aí financia o trabalho escravo comprando roupas da Zara, a propósito, quem garante que esse tênis de grife que você comprou não foi fabricado por mãozinhas calejadas de crianças escravas em Bangladesh? Não duvide... E se alguém disser que são os contribuintes que financiam a corrupção? Não deixa de ter a sua verdade também... Se deixarmos de pagar impostos podemos ser presos, mas poderemos nos manifestar contra a máquina corrupta, uma coisa bem Thoureau mesmo... O fato é que a questão envolve muito mais interesses e a droga passa por um caminho muito tortuoso até chegar ao usuário.

Não pretendo aqui explicar como funciona o tráfico, dizer de quem é a culpa e muito menos apontar a solução - embora acredite que deve-se encarar o uso de drogas como um problema de saúde individual, e não como um crime a ser combatido com tanques de guerra e metralhadoras.... Mas acho que é um assunto que chegou a um ponto crítico e muito grave, e todos deveriam discernir um pouco sobre o que pode fazer pra tentar mudar essa triste realidade. Um bom começo é tentar entender como a coisa funciona e, a partir daí, poder opinar com coerência e, quem sabe, até fazer alguma diferença! Dizer que não tem nada a ver com isso porque nunca fumou um baseado é uma grande omissão e, se for pra botar culpa em alguém, o omisso tem mais culpa do que um "maconheiro" bem-informado que discute e de alguma forma atua e luta por uma política das drogas.

Quer começar agora? Leia essa entrevista do ativista anti-proibicionista Neco Tabosa para o site Maconha da Lata.

Leia virtualmente aqui a revista O Fino da Massa #2.

Seguem algumas sugestões de vídeos:

Cortina de Fumaça: Especialistas discutem as drogas e a proibição.

Dançando com o diabo: Um pastor, um policial e um traficante (esse aí da foto) e a visão de cada um sobre o tráfico de drogas. Documentário gringo para televisão, com uma temática meio gospel.

18.8.11

Ser artesão é crime?

Acabo de assistir a um vídeo intitulado "A criminalização do artista - como se fabricam marginais em nosso país". Fala sobre a repressão e abuso de poder que sofrem os artesãos "hippies" e nos faz pensar como a polícia, fiscalização e punição são deturpadas no nosso país. A cena em que um dos artesãos provoca uma repórter é uma das mais interessantes: "me dá um real que nasceu mais um mendigo na cidade", logo após ter sua mochila, com os seus bens pessoais, confiscada por um dos policiais. A mídia, altamente conivente com essa realidade, não fica muito atrás dos policiais e fiscais que praticam esses atos abusivos.

Daí a importância de um cidadão como o Rafael Lage, fotófgrafo mineiro que produziu e disponibilizou esse vídeo mostrando a verdade por trás do que é mostrado nos jornais e na tv. Não sejamos coniventes com situações deprimentes como essa. Sejamos nós mesmos a mídia.

link para o vídeo: http://vimeo.com/27659191
link para blog de Rafael Lage sobre o assunto: http://belezadamargem.wordpress.com/