Acabei de ler um artigo muito interessante sobre conceitos totalitaristas na arquitetura, a exemplo da realizada no III Reich. O texto é de Junia Mortimer Cambraia e eu recomendo dar uma lida no link http://www.arqchile.cl/arquitecturas%20y%20regimen%20totalitarios.htm. O título do artigo é: “Arquiteturas e regimes totalitários”: o contra-exemplo nos estudos da arquitetura da república.
Abaixo, uma passagem do artigo sobre o desejo de Hitler de que o seu regime construísse uma arquitetura monumental e perene como a do Egito Antigo (o que, hoje sabemos, não foi bem o que aconteceu):
“Hitler tinha uma preocupação essencial de que os edifícios construídos por ele, através de Albert Speer, o arquiteto do III Reich, remetessem à lógica da duração e da grandeza da arquitetura egípcia, no sentido da permanência no tempo e da escala monumental. (...) é como se o encanto até hoje exercido sobre nós pela arquitetura egípcia – no caso especial das pirâmides – significasse também ao povo e à cultura egípcia a imortalidade pretendida por Hitler para sua nação. Trata-se de uma monumentalidade que garantiria efeitos carismáticos aos líderes, constituindo-se, portanto, fora da lógica histórica da cidade. É um discurso que se impõe no tecido urbano, engrandecendo, pela escala, pelas dimensões sobre-humanas, a suposta identidade soberana; a suposta origem divina; o suposto governo místico da burocracia totalitarista.”
Mas imperdível mesmo é a relação proposta pelo autor do artigo entre a arquitetura da cidade histórica de Ouro Preto-MG e o Centro Georges Pompidou, em Paris, projetado pelos arquitetos Renzo Piano e Richard Rogers:
“Caminhando nas ruelas da antiga Vila Rica percebemos o quanto vemos do “dentro” da casa – sem que essa visão seja devassa – e o quanto somos vistos desse dentro – sem que isso seja opressor –, a um tal ponto de esse “fenômeno” ser caricaturado nas esculturas em barro de bustos colocadas nas janelas das casas. Numa outra dimensão desse conceito, desloquemo-nos para a famosa Paris e reparemos também isso acontecer na arquitetura hi-tech do Centro Georges Pompidou. Vê-se que não nos prendemos em tipologias nem em temporalidades durante o processo investigativo. Uma vez que o recorte é a cidade, temos o cenário do mundo e a duração da História para atuar. O que importa é observar os princípios propostos, e nesse caso, observar como acontece esse contato entre público/privado que gera a rica permeabilidade. Esse contato interior/exterior é de tal modo estudado no Beaubourg que teremos aí o curioso fato de a visita ao edifício para se ver a cidade ser mais recorrente que a visita para se ver o edifício propriamente dito. Sintomático de uma arquitetura que se faz para a cidade, e não o contrário."
Nenhum comentário:
Postar um comentário